Grandes Protozoologistas Brasileiros

  • Aluízio Rosa Prata

    Darcy 12-9-2013

    Nascimento: 01/06/1920 | Falecimento: 2011

    Aluízio Rosa Prata, o inesquecível “Professor Prata”, formou-se em Medicina em 1945, pela antiga Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, foi professor e pesquisador e um grande líder que influenciou profundamente o desenvolvimento da Medicina Tropical no Brasil e América Latina. Professor Emérito da Universidade de Brasília e da Universidade Federal da Bahia, o Professor Prata faleceu aos 91 anos em 2011, como Professor Titular da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em Uberaba, Minas Gerais. Ao longo de 60 anos de carreira publicou cerca de 500 trabalhos incluindo artigos em periódicos, resumos em congressos, livros, capítulos de livros além de teses e dissertações, palestras, etc. Atou também em vários órgãos de fomento e pesquisa no Brasil e exterior. Suas principais linhas de pesquisa foram a Esquistossomose, em primeiro lugar, seguida da Doença de Chagas, além de outras doenças infecciosas e parasitárias. O Professor Prata sempre foi inovador e, nos locais onde trabalhou, Universidade Federal da Bahia, Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília e Universidade Federal do Triângulo Mineiro, criou grupos de pesquisa que permitiram a integração da clínica com a pesquisa básica e a formação de novos líderes e profissionais competentes, hoje dispersos pelo Brasil, América Latina e alguns países da África. Uma das contribuições mais importante do Professor Prata, seu estilo próprio de ensinar, mostrava que para conhecer as doenças endêmicas é crucial uma visão ampla e integrada do hospital, do paciente e da sua realidade social. Sua determinação e capacidade de agregar pessoas, sempre visando o retorno para as comunidades locais, resultou em inúmeros projetos clínicos, epidemiológicos e estudos longitudinais sobre várias doenças tropicais. Dono de uma personalidade marcante, era determinado e inquieto, porém, sereno, gentil, generoso e tolerante. Pregava que o trabalho, o ensino e a pesquisa devem ser fontes de felicidade! Desconhecia o significado da palavra Não, pois sempre encontrava soluções para tudo. Aos oitenta anos, construía sonhos para 10 ou 20 anos e se justificava sorrindo… “não estarei mais aqui, mas vocês irão vivenciar e dar continuidade a estes projetos”. Seus ex-alunos podem dizer, entretanto, que o Professor desta vez se enganou, pois continuou vivo e presente em cada conquista daqueles que tiveram o privilégio de aprender com ele!

    Escrito por Eliane Lages ( UFTM)

  • Carlos Ribeiro Justiniano Chagas

    Darcy 12-9-2013

    Nascimento: 09/07/1879 | Falecimento: 08/11/1934

    Carlos Ribeiro Justiniano Chagas nasceu em uma fazenda no município de Oliveira, Minas Gerais, em 1878. Em 1903 formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, dedicando-se ao estudo da malária sob orientação de Oswaldo Cruz, no então Instituto de Manguinhos. Carlos Chagas destaca-se entre os colaboradores de Oswaldo Cruz que convida-o para combater a epidemia de malária que assolava os trabalhadores da Companhia Docas de Santos. Graças à sua inteligência e poder de observação, Chagas percebeu que o mosquito perdia seu poder de vôo após o repasto sanguíneo e desta forma propõem a desinfecção residencial ao invés do combate à larva. O procedimento preconizado por Carlos Chagas foi precursor dos métodos que vieram mais tarde como a dedetização das residências. Em 1909 Oswaldo Cruz indica seu colaborador Carlos Chagas para combater a malária em Minas Gerais onde estava em construção parte da Estrada de Ferro Central do Brasil. No pequeno laboratório que monta para estudar a malária em Lasance (MG), Chagas identifica um Trypanosoma no sangue de sagüi, achando-os posteriormente no intestino de triatomíneos. Chagas, envia então alguns triatomineos infectados para o Instituto de Manguinhos e solicita a Oswaldo Cruz que alimente os insetos em sagüis. A partir deste momento não apenas identifica a nova espécie de patógeno, denominando-o Trypanosoma cruzi em homenagem a seu mestre Oswaldo Cruz,  como descreve seu ciclo na natureza e a doença por ele causada, denominada de “Moléstia de Chagas”  posteriormente, por sugestão de Miguel Couto. A descoberta de Carlos Chagas é até hoje reconhecida como um feito excepcional pois em pouco tempo foi descrita uma nova doença ainda relevante para grande parte da população da América Latina, com a determinação de seu agente etiológico, os mecanismos de transmissão, as formas clínicas da doença e os fundamentos epidemiológicos da mesma. Chagas colheu vários louros, como a Medalha Schaudinn, o prêmio mais importante na área de medicina tropical à época ou ainda a titularidade na Academia Nacional de Medicina aos 31 anos, a mesma Academia que faria alguns anos depois uma injusta e infundada difamação sobre o grande feito de Carlos Chagas. Por razões ainda polêmicas, Chagas não recebeu o prêmio Nobel em 1921 para o qual foi indicado, não havendo nenhum ganhador naquele ano. Várias hipóteses e especulações de Carlos Chagas sobre a Tripanosomíase Americana” foram elucidadas posteriormente com o avanço das técnicas moleculares, denotando Carlos Chagas como um homem adiante de seu tempo e, certamente,  o maior entre os cientistas brasileiros.

    Escrito por Samuel Goldenberg (Fiocruz – ICC)

  • Conceição Ribeiro da Silva Machado

    Darcy 12-9-2013

    Nascimento: – | Falecimento: 2007

    Conceição Ribeiro da Silva Machado formou-se em Medicina, em 1964, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também realizou seu doutorado, concluído em 1965. Fez pós-doutorado na Universidade Northwestern, em Chicago, no período de 1965 a 1967, onde dedicou-se ao estudo da glândula pineal de mamíferos. Ingressou como professora da UFMG em 1965, quando assumiu a cadeira de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina. No início da década de 70, com a criação do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), juntamente com o Professor Ângelo B. Monteiro Machado, criou o laboratório de Neurobiologia do Departamento de Morfologia, onde coordenou vários projetos de pesquisa e orientou diversos alunos de graduação e pós-graduação, dedicando-se principalmente ao estudo da doença de Chagas e seus efeitos sobre o sistema nervoso. Foi a primeira coordenadora do curso de Pós-Graduação em Morfologia (hoje Biologia Celular) da UFMG, criado em 1973, tendo atuado como coordenadora do Programa ainda por mais 2 mandatos. Foi secretária regional e integrante do Conselho Deliberativo da SBPC e ocupou o cargo de presidente da Sociedade Brasileira de Biologia Celular, de 1980 a 1982. Profa. Conceição foi ainda membro da Câmara de Ciências Biológicas e Saúde da Fapemig e de comitês assessores do CNPq e da Capes. Em 1991, aposentou-se como Professora Titular, mas continuou exercendo várias atividades de pesquisa e na pós-graduação. Em 1994, tornou-se membro titular da Academia Brasileira de Ciências e, três anos depois, recebeu o título de Professora Emérita da UFMG. Conceição Machado foi também condecorada, em 2002, com a Ordem Nacional do Mérito Cientifico, categoria comendadora e em 2006 recebeu a medalha de mérito por pesquisa na área de saúde, da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais.  Em agosto de 2007, após mostrar toda a sua bravura durante um longo período de doença, Conceição veio a falecer, deixando um enorme legado científico, um grande número de descendentes, entre alunos e colaboradores que tiveram o privilégio de aprender o seu modo exigente de fazer Ciência e um conjunto de lembranças inesquecíveis entre todos que conviveram com ela.

    Escrito por Elizabeth Ribeiro da Silva Camargos (UFMG)

  • Darcy Fontoura de Almeida

    Darcy 12-9-2013

    Nascimento: 19/07/1930 | Falecimento: 06/03/2014

    Darcy Fontoura de Almeida nasceu em 19/07/1939 no Rio de Janeiro e graduou-se em Medicina em 1954 pela então Universidade do Brasil. Iniciou sua carreira científica ainda como estudante no então Laboratório de Biofísica dirigido por Carlos Chagas Filho. Realizou estágio sob a supervisão de Ernst Chain (prêmio Nobel de 1945) na Escola de Pós-graduação Médica de Londres. Ao regressar ao Brasil dedicou-se à genética de microrganismos, área em que foi um dos líderes do país. Nas áreas de genômica e bioinformática, desempenhou papel importante na formação de pesquisadores e na criação da Unidade de Genética Computacional do Laboratório Nacional de Computação Científica, que hoje tem seu nome. Seu interesse pela Protozoologia ocorreu após discussões de trabalho nos seminários do Departamento de Biofísica Celular do Instituto de Biofísica, especialmente pelo estudo das mudanças de forma encontradas em tripanosomatídeos (Herpetomonas samuelpessoai e Trypanosoma cruzi), tema que deu origem a alguns trabalhos e teses realizadas sob a sua supervisão. Passou a ser frequentador assíduo dos encontros científicos realizados em Caxambu, tendo sido organizador de uma das reuniões anuais. Impossível não destacar neste curto espaço o lado “arquivista e historiador” do Darcy que com seus célebres caderninhos registrava tudo e constituem hoje fonte preciosa de informações.  Além da atividade científica, Darcy se dedicou intensamente à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC atuando na defesa da Ciência, sempre ameaçada pelos cortes de recursos governamentais. Dedicou-se ainda à difusão científica com importante papel na criação das revistas Ciência Hoje (1982) e Ciência Hoje das Crianças (1986) e do Jornal da Ciência (1985).

    Escrito por Wanderley de Souza (UFRJ) – Photo collection IBCCF – UFRJ

  • Egler Chiari

    Nascimento: 07/02/1934 | Falecimento: 04/07/2020

    Egler Chiari, um entusiasta da ciência nasceu em 07/02/1934 em Belo Horizonte, MG, dedicou sua vida profissional (65 anos) ao estudo do Trypanosoma cruzi e da doença de Chagas, e é considerado um dos cientistas mais influentes do mundo (Plos Biology, 2020; Research.com, 2023). O “Professor Egler”, assim gostava de ser chamado, inquieto e permeado pela assertividade, descobriu seu interesse pela área biológica e pesquisa ao ingressar (1955) no Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu/BH), com a primeira publicação (1956) antes de ingressar na Universidade. Na UFMG graduou-se em Farmácia Química (1963), concluiu o Mestrado (1971) e o Doutorado (1981). Foi Professor Adjunto (1970-1990) e Titular (1991) no Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFMG), Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências/1999 e Pesquisador 1A-CNPq desde 1988. Participou na fundação do Programa de Pós Graduação em Parasitologia onde orientou (1974-2019), alunos de Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado e, a maioria deles tornaram-se professores e pesquisadores em diversas instituições de ensino e pesquisa no Brasil e no exterior dando continuidade ao seu legado científico. Em 2007, implantou um Laboratório de Pesquisa em Biologia de Parasitos e Doença de Chagas contribuindo para a formação de recursos humanos na UFRN. Entre as suas 190 contribuições científicas considerava duas mais relevantes para o estudo da doença de Chagas humana: a padronização da hemocultura para o diagnóstico parasitológico na infecção crônica, que ao isolar o parasito abriu novas perspectivas para avaliação do tratamento, comportamento biológico experimental das populações de T. cruzi e padronização de técnicas moleculares (PCR e qPCR) aplicadas ao diagnóstico. A segunda, na sua opinião a mais importante, foi a caracterização do k-DNA dos minicírculos das cepas e clones do T. cruzi usando padrões de endonuclease de restrição com novas expectativas para a compreensão das manifestações clínicas da doença de Chagas. Egler Chiari foi um visionário e acompanhou a evolução tecnológica liderando as pesquisas relacionadas à “biologia do T. cruzi in vivo e in vitro”, “diagnóstico parasitológico e quimioterapia experimental da doença de Chagas”, “caracterização bioquímica e molecular do parasito. Faleceu em 04/07/2020 deixando dois filhos, duas netas e um neto e permanecerá sempre na memória de todos que tiveram o privilégio de seu convívio.

    Escrito por Lucia Maria da Cunha Galvão (ICB/UFMG) – Foto: Lucia Maria da Cunha Galvão

  • Erney Felicio Plessmann de Camargo

    Nascimento: 20/04/1935 | Falecimento: 03/03/2023

    Erney nasceu em Campinas, em 1935. Filho de Felicio Edgard de Camargo Cruz e Mary Marcondes Plessmann de Camargo. Ingressou na Faculdade de Medicina da USP em 1953. No segundo ano do curso estagiou no Departamento de Parasitologia liderado por Samuel Pessoa. Formou-se em 1959 e iniciou sua carreira em um ambiente científico que contava entre outros, Leônidas e Maria Deane, Victor e Ruth Nussensweig, Sebastião Baeta Henriques, Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Seu primeiro trabalho independente (1964) foi sobre o crescimento e diferenciação do Trypanosoma cruzi. Em 1964, junto com outros pesquisadores, foi demitido por razões políticas da Faculdade de Medicina e exilou-se nos Estados Unidos, trabalhando na Universidade de Wiscosin. Retornou ao Brasil em 1969 e trabalhou até 1985 no Departamento de Parasitologia da Escola Paulista de Medicina, quando então retornou à USP, como professor do Departamento de Parasitologia (ICB/USP), com o desafio de reconstruir esse Departamento, fragmentado pela ditadura. Na USP foi pró-reitor de pesquisa (1988-1993). Foi presidente do CNPq (1986 – 1989) e fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Protozoologia. Foi também diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel. Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico, Comendador (1988) e Grã-Cruz (2002). Erney formou inúmeros cientistas e fez contribuições científicas notáveis, especialmente na área de protozoologia. Seu comportamento foi guiado pelos princípios humanistas e pelo bem-estar de todos os seres humanos. Erney nos deixou em 03 de março de 2023. Foi casado com Marisis Aranha Camargo, professora universitária na área de literatura inglesa, com quem teve quatro filhos que atuam na carreira científica: Marcelo, Fernando, Eduardo e Ana Maria. Os seus onze netos eram as suas paixões. Uma outra paixão, Erney, era um torcedor fanático pelo São Paulo Futebol Clube. Erney está na galeria de honra da Protozoologia nacional e internacional, com importantes contribuições científicas. Estará presente sempre na memória daqueles que tiveram o privilégio de seu convívio.

    Escrito por Isaac Roitman (UFRJ/UNB) – Foto: Eduardo Cesar / Revista Pesquisa FAPESP

  • Firmino Torres de Castro

    Fimino e Jacy 70

    Nascimento: 01/01/1920 | Falecimento: 20/03/2011

    Firmino Torres de Castro (01/01/1920), médico (UFPE-1942), foi um dos pioneiros da Protozoologia Molecular no Brasil. Iniciou na Protozoologia do Instituto Oswaldo Cruz (1946) e tornou-se pesquisador da instituição em 1949. Era Livre Docente em Bioquímica-UFRJ. Posteriormente, transferiu-se para o IBCCF-UFRJ e criou o Laboratório de Metabolismo Macromolecular, que levou seu nome em 1990.

    Na pesquisa trabalhou com Tetrahymena pyriformis no metabolismo de RNAs e proteínas. Com Trypanosomatídeos, são clássicos seus trabalhos sobre  fracionamento celular. Dentre várias iniciativas, destacam-se: em 1976, “Workshop em Biologia Molecular de Eucariotos”, um divisor de águas na área, no país. Em 1981, clonou genoma do T. cruzi,  trabalho apresentado na X Reunião da SBBq. Nos anos 80-90, realizou grande contribuição na pesquisa sobre Proteínas de Choque Térmico e Tubulinas. Como docente, formou inúmeros pesquisadores que são lideranças na atualidade.

    Na política científica, atuou na UFRJ e CNPq. Participou da criação dos Comitês Assessores e membro do primeiro C.A. de Bioquímica-Biofísica-Fisiologia-Microbiologia-Imunologia-Parasitologia. Participou da criação do Programa Integrado de Doenças Endêmicas (PIDE) que renovou a parasitologia no país alavancando várias subáreas, como a Biologia Molecular de parasitas. Foi o PIDE que deu origem a bem sucedida Reunião Anual de Pesquisa Básica em Doença de Chagas. Em 2007 recebeu a distinção, Pesquisador Emérito do CNPq.

    Firmino era avesso às manifestações que exaltassem suas qualidades, traço marcante, e consenso entre os que o conheceram. Teve ao seu lado a pesquisadora, médica e esposa Jacy Faro de Castro, empreendedora e de personalidade forte, participou ativamente de todas realizações. Aposentado aos 70 anos, faleceu aos 91, em 20/03/2011.

    Escrito por Edson Rondinelli (UFRJ)

  • Herbert Tanowitz

    Nascimento: 06/09/1941 | Falecimento: 17/07/2018

    Dr. Herbert Tanowitz, Professor nos Departamentos de Patologia e Medicina (Doenças Infecciosas) do Albert Einstein College of Medicine Colégio, NY, EUA, faleceu em julho de 2018. Um apaixonado e dedicado médico-cientista e mentor, o Dr. Tanowitz era estimado por muitos colegas e amigos que fez em todo o mundo. Um pesquisador de doenças infecciosas encontradas mundialmente, Dr. Tanowitz foi dedicado à ciência e reconhecido por seus trabalhos com parasitos e, em particular, por seu trabalho sobre a patogênese da doença de Chagas, causada pela infecção por Trypanosoma cruzi, investigando a patogênese da cardiopatia chagásica e as conseqüências da infecção pelo T. cruzi na fisiopatologia do hospedeiro. Dr Tanowitz, colaborou com vários pesquisadores brasileiros, principalmente com os que estudam a relação T. cruzi-hospedeiro. Herbie, como era chamado por vários pesquisadores, também atuou como diretor e pesquisador principal do “Forgaty International Training Grant” um programa de treinamento de estudantes e bolsistas de pós-doutorado do Brasil em métodos de pesquisa em doenças infecciosas e medicina geográfica. Em reconhecimento às suas contribuições no Brasil, Dr. Tanowitz foi eleito em 2009 para a Academia Brasileira de Ciências e em 2011, recebeu o Prêmio Walter Colli durante a 27ª reunião anual da Sociedade Brasileira de Protozoologia.

    Escrito por Fabiana Simões Machado (Departamento de Bioquimica e Imunologia, UFMG)

    • Leonidas e Maria Deane

      maria leo lab2Leonidas Deane  – Nascimento:18/03/1914| Falecimento: 30/01/1993

      Maria Deane        – Nascimento:24/07/1916| Falecimento: 13/08/1995

      Leonidas e Maria Deane estão entre os pesquisadores que mais influenciaram a Parasitologia brasileira contemporânea. Esses dois inseparáveis pesquisadores sempre trabalharam em problemas parasitológicos sob um prisma naturalista muito elaborado e inteligente. Começaram sua carreira científica quando recrutados por Evandro Chagas para a campanha contra o Anopheles gambiae e a grande epidemia malárica dos anos 30-40 no Nordeste. Ao longo de sua carreira, Leonidas examinou exaustivamente os reservatórios silvestres do Trypanosoma cruzi e seus vetores estendendo seus estudos a inúmeros outros tripanossomas de animais silvestres, em particular morcegos e primatas.  Maria procurou entender o ciclo do T. cruzi nestes reservatórios, particularmente no Opossum. Ambos sempre olharam a endemia Chagásica como naturalistas além sanitaristas e nunca deixaram de lutar e atuar politicamente por meios de controlar nossas endemias. Leonidas teve papel significativo na caracterização da Leishmaniose Visceral do Nordeste. Maria e Leonidas foram lideranças científicas nas principais Escolas Parasitológicas do século XX no Brasil, a de Samuel Pessoa, na USP, e a de Amílcar Viana Martins, na UFMG. Tiveram enorme prestígio internacional onde sempre foram reconhecidos como intelectuais da mais sólida e honrada personalidade. Encerraram sua atividade científica apenas com a morte, quando ainda pesquisavam no Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.

      Escrito por Erney F. Plessmann de Camargo (ICB-USP) – Photo Collection Fiocruz

    • Luiz Hildebrando Pereira da Silva


      Nascimento: 16/09/1938 | Falecimento: 24/09/2014

      O nome do Professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva sempre será uma referência mundial no estudo de doenças tropicais. O Prof. Hildebrando era Professor-emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Rondônia, foi diretor da Unidade de Parasitologia Experimental do Instituto Pasteur, na França e, desde 2003 era o diretor do Instituto de Patologias Tropicais de Rondônia (Fiocruz Rondônia). Além de mais de 150 trabalhos científicos publicados, a maioria deles sobre malária, publicou também vários livros, entre eles “Crônicas subversivas de um cientista”. Ao falecer em setembro de 2014, aos 86 anos de idade, o Prof. Hildebrando, que ainda trabalhava ativamente em vários projetos de pesquisa deixou um enorme vazio na comunidade científica do nosso país. Vejam a seguir o depoimento dado pelo Prof. VictorNussenzweig que descreve muito bem a grande personalidade do Prof.Hildebrando :“Hildebrando e eu fomos amigos desde os 11 anos quando entramos no Ginásio do Estado em São Paulo e depois colegas na Faculdade de Medicina onde dissecamos juntos peças de cadáveres formolizados lendo um livro de anatomia italiano. E participamos juntos do entusiasmo coletivo em 1945 quando os nazistas foram derrotados com  a participação importante da União Soviética. Luiz e eu admirávamos os camaradas Prestes e Stalin. Eu fui mesmo preso quando distribuía folhetos comemorando os 70 anos de Stalin. Mais tarde, ao ser a Hungria invadida pelos russos, eu me afastei do Partido. Luiz aceitou a necessidade estratégica da invasão, e militou até o fim da sua vida. Luiz foi um genuíno patriota. Trabalhou até o fim da vida estudando as características epidemiológicas da malária na região amazônica. Abandonou uma posição de comando no Instituto Pasteur de Paris para desenvolver um centro de pesquisa em Rondônia, onde se formaram estudantes de graduação, mestres e doutores. Eu  creio que essas foram suas maiores contribuições para o desenvolvimento do Brasil”.

      Escrito por Victor Nussenzweig (New York University School of Medicine)

    • Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos

      Nascimento: 26/09/1938 | Falecimento: 30/07/2020

      Conheci Travassos em 1963 como Professor do Curso de Especialização em Microbiologia no Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ainda no campus da Praia Vermelha. Fui convidado por ele para trabalhar no Departamento de Microbiologia Geral que era chefiado pelo notável microbiologista Amadeu Cury que posteriormente foi o diretor do Instituto e Reitor da Universidade de Brasília. Foi meu orientador de Doutorado e mentor de minha carreira acadêmica até hoje. Frequentava sua casa no bairro do Flamengo. Convivi com o casal Travassos e Norma e acompanhei o crescimento de seus filhos Marta e Alexandre. Casei em sua residência. Foram mais de 50 anos de convívio que considero um grande privilégio.
      Sua trajetória científica foi excepcional. Filho do renomado bacteriologista e virologista Joaquim Travassos da Rosa, sempre teve a vocação de cientista presente, o que o fez ingressar num laboratório de pesquisa já no primeiro ano do curso médico, sob a orientação de Carlos Solé Vernin. Neste laboratório isolou e caracterizou pela primeira vez no Brasil, bactérias patogênicas, de metabolismo oxidativo, produtoras de ácido glucônico, hoje classificadas como Acinetobacter e, na época, como membros da Tribu Mimeae (mimetizando Neisseria). No laboratório de Amadeu Cury continuou os estudos fisiológicos destas bactérias, mas a principal técnica incorporada foi a de estudos nutricionais utilizando leveduras saprófitas obrigatórias de animais de sangue quente. Esse estudo, que permitiu um considerável avanço na determinação de fatores de crescimento de microrganismos, fatores de temperatura, estabelecimento de dois métodos de dosagem microbiológica (colina e carnitina), estabelecimento de meios de cultura de composição química definida (sintéticos) e estudo do mecanismo de ação de antimetabólitos. Seu mérito foi reconhecido pelo convite para apresentar uma revisão ao Annual Review of Microbiology, publicada em 1971. Nessa época e em grande parte de sua carreira recebeu a influência de Seymour H. Hutner do Haskins Laboratories em New York. A partir de 1972, iniciou uma linha de investigação sobre bioquímica e imunoquímica de estruturas antigênicas de fungos patogênicos para o homem, inicialmente em colaboração com Kenneth O. Lloyd na Columbia University, New York e posteriormente com vários estudantes de grande talento no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Numerosas novas estruturas foram identificadas em Sporothrix schenckii, Ceratocystis, Aspergillus, empregando métodos clássicos e, na época, inovadores, de ressonância nuclear magnética de C-13 e H-1 (primeiros espectros de C13 de heteropolissacarideos na literatura em colaboração com Philip A.J.Gorin). O trabalho em Sporothrix schenckii foi revisto e atualizado em dois capítulos de livro, a convite, e em uma revisão no Microbiological Reviews. De volta a New York, foi Professor Visitante do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, onde ficou ligado ao grupo chefiado por Lloyd J. Old, que estudava antígenos tumor-específicos de células de melanoma humano. A sua principal contribuição no período foi a identificação de gangliosídeos imunogênicos característicos de melanoma, o que abriu uma nova linha de investigação na área, tanto no Sloan-Kettering como em outros laboratórios. Anticorpos monoclonais foram preparados contra GD3 do melanoma (W.G. Dippold, A.N. Houghton) e utilizados no tratamento de pacientes com melanoma metastático. O trabalho, que reuniu numerosos colaboradores, e em particular, um estudante seu, Clifford S. Pukel, bem como o supervisor Kenneth O. Lloyd, gerou duas patentes institucionais e uma publicação no J. Exp. Med. atualmente com mais de 500 citações. De volta ao Brasil, transferiu-se para a Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde iniciou duas linhas de pesquisa, uma relacionada aos componentes antigênicos de Trypanosoma cruzi reativos com anticorpos líticos, e outra ao antígeno de diagnóstico específico do Paracoccidioides brasiliensis. Nessas duas linhas, resultados importantes foram obtidos. purificados estão sendo utilizados com grande sucesso no diagnóstico da Doença de Chagas ativa, em métodos quimioluminescentes de alta sensibilidade, adequados a bancos de sangue. Na segunda linha, o antígeno de diagnóstico específico de Paracoccididioides brasiliensis foi identificado como uma glicoproteina de 43.000 daltons, a qual foi purificada, clonada e inteiramente sequenciada. Publicou 263 artigos em periódicos científicos, 22 capítulos de livros e 02 livros. Orientou 23 Mestrados e 28 Doutorados (família Travassos). Sua liderança se refletiu na organização de Departamentos e grupos de pesquisa na UFRJ e UNIFESP, fundação de Sociedade científica, criação e coordenação do Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica (CINTERGEN) na UNIFESP, coordenação de Cursos de Pós-graduação, Direção do Setor de Biologia e Ciências Médicas do CNPq e participação de comitês assessores, atividades como Editor Senior de Ciência e Cultura, J. Braz. Assoc. Adv. Sci., relator, membro e Presidente de comissões no CNPq, CAPES e Academia Brasileira de Ciências, Coordenador dos Seminários Científicos da Praia Vermelha e muitas outras. A partir de 2008 foi consultor da Recepta Biopharma. Desde 2003 foi membro do Conselho de Curadores do Instituto Butantan. Recebeu prêmios e homenagens. Entre eles o Prêmio Nami Jafet (1963), Ordem Nacional do Mérito Científico (Comendador, 1996/ Grã Cruz, 2002, Prêmio Fiocruz (2000), Medalha Samuel Pessoa da Sociedade Brasileira de Protozoologia (1999) e Scopus / Elservier/CAPES ( 2008).
      Travassos, além de cientista apresentava facetas raras em uma única pessoa. Era uma pessoa de bem. Era culto e elegante ao se dirigir a alguém. Adorava música e se esforçava para estimular a educação musical de seus estudantes e sobretudo do seu filho Alexandre. Foi compositor e notável pianista. Ao responder uma entrevista da revista FAPESP sobre sua estada em Nova York assim se pronunciou: “Tudo o que eu gosto na vida está em Nova York: música sinfônica de qualidade, ópera, teatro, parque e o frio”. Em Nova York morou em um bairro judaico e converteu-se ao judaísmo e dominou o hebraico e tornou-se um grande erudito da cultura e religião judaica. Travassos sempre teve um humor refinado. Travassos tinha um senso crítico aguçado. No entanto foi sempre um crítico construtivo, uma pessoa ética, características dos grandes humanistas. Ficará para sempre em nossas memórias.

      Escrito por Isaac Roitman (Professor Emérito da Universidade de Brasília)

    • Maurício Rodrigues


      Nascimento: 08/08/1961 | Falecimento: 23/06/2015

      O professor Maurício M. Rodrigues, parte da família dos protozoologistas, imunologistas e vacinologistas brasileiros, foi Professor Associado da Universidade Federal de São Paulo, Professor Livre Docente em Imunologia pela UNIFESP, antiga Escola Paulista de Medicina, e o Vice-Coordenador do Instituto Nacional de Tecnologia e Desenvolvimento em Vacinas, INCTV. Maurício foi, com certeza, um dos brasileiros que mais contribuiram para entendermos os mecanismos imunológicos de resistência às doenças causadas por protozoários, em especial a doença de Chagas e malária. Tendo dado seus passos iniciais nas reuniões anuais da Sociedade Brasileira de Protozoologia e da Sociedade Brasileira de Imunologia em Caxambu, Mauricio foi aluno de iniciação científica do Professor Júlio Scharfstein, aluno de mestrado e doutorado do Professor Marcello Barcinski, na UFRJ, onde obteve seu título de doutor em 1989. Realizou o pós-doutorado na New York University School of Medicine entre 1989 e 1991 no grupo da Dra. Ruth Nussenzweig, onde atuou também como Professor Assistente, entre os anos de 1991 e 1993. Ao voltar para o Brasil em 1994, assumiu o cargo de Professor Adjunto na Unifesp onde criou um grupo que passou a ser referência em estudos sobre o desenvolvimento de vacinas contra doenças parasitárias. Como coordenador do CINTERGEN- Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica, da Unifesp, o Prof. Mauricio trabalhou no desenvolvimento das mais avançadas tecnologias para a obtenção de uma vacina contra a doença de Chagas e a malária. Seus trabalhos sobre a resposta imune a esses parasitos contribuíram de forma extraordinária para o avanço do conhecimento nessa área, com foco principal no entendimento na biologia dos linfócitos T CD8+ e memória imunológica.  Pesquisador 1A do CNPq, o Prof. Mauricio publicou mais de 120 trabalhos de impacto internacional. Formou inúmeros estudantes, muitos deles hoje professores em várias Universidades e pesquisadores da FIOCRUZ. Seu legado é imenso e a forma intensa que vivia e enfrentava condições adversar foi um grande exemplo para todos nós. Após o seu falecimento no dia 23 de Junho de 2015, sua falta passou a ser sentida por muitos amigos e colegas que deixou na comunidade científica brasileira. Em especial, sentiremos falta de seu brilho, senso crítico e humor, muitas vezes “ácido”, porém sempre construtivo e com intuito claro de contribuir para o avanço da ciência no Brasil.

      Escrito por Ricardo Gazzinelli (Fiocruz-CPqRR)

    • Oswaldo Cruz

      Nascimento: 05/08/1872 | Falecimento: 11/02/1917

      Oswaldo Cruz nasceu em 5/08/1872 em São Luís de Paraitinga, São Paulo onde viveu até 1877 quando, juntamente com sua família, mudou-se para o Rio de Janeiro. Aos 15 anos ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, em 1892 formou-se doutor em Medicina com a tese “A veiculação microbiana pelas águas”. Quatro anos depois viajou para a França onde especializou-se em bacteriologia no Instituto Pasteur de Paris. Voltou ao Brasil em 1889 quando assumiu a cadeira de diretor técnico do Instituto Soroterápico Federal, mais tarde denominado Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos e depois, Instituto Oswaldo Cruz. Neste período dedicou-se à produção de vacinas contra a peste bubônica mas também à pesquisa básica e à formação de recursos humanos. Nomeado diretor-geral da Saúde Pública em 1903, cargo que corresponde atualmente ao de Ministro da Saúde, deflagrou memoráveis campanhas de saneamento para o combate da peste bubônica, da varíola e da febre amarela. Com uma política de isolamento de doentes e vacinação obrigatória as medidas propostas por Oswaldo Cruz sofreram forte oposição por parte de políticos, de alguns segmentos da população e de vários jornais. Neste cenário, estoura uma rebelião popular na Escola Militar da Praia Vermelha, com repercussão em toda a cidade e conhecida como a Revolta da Vacina. Como consequência o Governo derrotou a rebelião, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina. Em 1909, Oswaldo Cruz deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública, passando a se dedicar apenas ao Instituto batizado com o seu nome. Em 1913, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1915, por motivos de saúde, abandonou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para Petrópolis. Sofrendo de insuficiência renal, Oswaldo Cruz faleceu prematuramente em 11 de fevereiro de 1917, aos 44 anos.

      Adaptado de portal.fiocruz.br

    • Ralph Lainson

      Nascimento: 21/02/1927 | Falecimento: 05/05/2015

      É com grande pesar que comunicamos que no dia 5 de Abril de 2015 o Brasil perdeu um de seus protozoologistas mais ilustres, o Prof Ralph Lainson OBE FRS. Ele chegou ao Instituto Evandro Chagas em Belém (no estado do Pará) em 1965 onde passou toda a sua vida explorando os parasitas da fauna Amazônica. Apesar de ser mais conhecido por seus trabalhos pioneiros sobre a leishmaniose ele fez outras grandes contribuições com a descoberta de novas famílias de protozoários parasitos de sangue e parasitas intestinais. Sem dúvida ele foi um especialista mundial sobre coccídeos e hemoparasitas de animais selvagens nas Américas e as suas pinturas sobre estes organismos são como obras de arte. A sua persistência, que o levou a desvendar os ciclos de vida de muitos desses novos parasitos, é incomparável, sendo refletida em sua vida pessoal. O seu exemplo impulsionou muitos jovens cientistas em longas jornadas no estudo de protozoários parasitos.

      Escrito por Dr. Jeffrey Shaw (USP)

    • Ruth Nussenzweig


      Nascimento: 20/06/1928 | Falecimento: 01/04/2018

      Ruth Sonntag (nome de solteira) nasceu em 20 de junho de 1928, em Viena. Filha de médicos judeus, a família emigrou para o Brasil após a invasão da Áustria pela Alemanha Nazista em 1938. Em São Paulo, Ruth ingressou no curso de medicina da Universidade de São Paulo com o objetivo de tornar-se cientista. Foi na faculdade que ela conheceu seu futuro marido e companheiro Victor Nussenzweig, um colega estudante de medicina. Os dois se casaram em 1952 e após a conclusão do curso de medicina foram contratos pela Universidade como professores associados. Na década de 60, o casal imigrou para os EUA onde foram trabalhar na New York University  em laboratórios separados.
      A Ruth dedicou sua carreira científica em estudos para o desenvolvimento de uma vacina contra a Malária. Foi ela quem descobriu a proteína da superfície dos circunsporozoítos (CSP) de Plasmodium e principal alvo da vacina anti-malárica. Ruth é um exemplo de perseverança e dedicação como mostra o depoimento do amigo e professor Sergio Schenkman:

      “Conheço a Ruth desde quando realizei pós-doutorado no laboratório do Victor Nussenzweig no Departamento de Parasitologia da New York University. Mais recentemente é que conheci um lado único dela, que ia além de uma grande cientista. Em longas conversas percebi como ela tinha conseguido realizar tantas coisas a nível profissional e pessoal. Ela tinha um caráter determinado a realizar e alcançar seus objetivos. Ao mesmo tempo ela nunca deixou de se preocupar com quem estava a sua volta e a perceber quem eram aqueles com quem poderia contar e apoiar, para em conjunto alcançarem os seus objetivos. É como se fosse uma grande mãe que cuidava de tudo e de todos. Graças a esta atitude ela deixou além dos seus sucedidos filhos, uma grande família de pesquisadores e um legado sem igual nas suas pesquisas de combate à Malária. Ela contribui com a formação de eminentes cientistas mundiais, incluindo brasileiros que compartilharam alguns momentos de suas vidas com ela. Fico triste que ela tenha partido, mas ao mesmo tempo, contente pelo que ela fez por todos nós.”

      Escrito por Sergio Schenckman (UNIFESP) e Renata Rosito Tonelli (UNIFESP) – Foto: Eduardo Knapp (Folhapress)

    • Samuel Pessoa
      Lobato Paraense - fiocruzNascimento: 1898 | Falecimento: 1976Em seu discurso de posse como Catedrático de Parasitologia da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1931, Samuel Pessôa se propunha a “…atribuir sempre a maior prioridade aos verdadeiros problemas nosológicos do homem brasileiro”. Quando paraninfou a turma de 1940 da Faculdade de Medicina Samuel exortava seus alunos:  “trabalhai, trabalhai por este nobre e alto ideal — o melhoramento da saúde de nosso povo”.

      Essa duas expressões refletem a concepção do Prof. Samuel Pessôa sobre o papel do médico e, por extensão, do pesquisador voltado para os problemas da Saúde Pública, em particular as endemias parasitárias. Samuel Pessôa foi um infatigável militante na luta contra as endemias rurais brasileiras e de suas causas e consequências sociais, como consolidado em seu livro “Ensaios Médico-Sociais”. As posições de Samuel Pessoa o conduziram inevitavelmente para a esquerda do cenário político e o levaram a transmitir essa postura a seus alunos e assistentes. Na Faculdade de Medicina de São Paulo, Samuel Pessoa criou, a seu tempo, a mais prestigiosa escola de Parasitologia do país. Samuel trouxe para seu Departamento (o Departamento Vermelho da aristrocrática Faculdade de Medicina) conhecidos pesquisadores que se tonaram respeitados por suas contribuições tanto no campo da parasitologia básica como da aplicada à Saúde Pública. Depois de aposentado, Samuel Pessoa, retomou sua carreira de naturalista abafada por seu comprometimento social. No Instituto Butantan, passou a estudar hematozários e tripanosomas de cobras e anuros. Foi toda uma carreira dedicada ao conhecimento e à transmissão do conhecimento atestados pelas 11 edições de seu tratado Parasitologia Médica. Foram seus discípulos, em algum momento, Ayroza Galvão, João Alves Meira, Joaquim Alencar, Mauro Pereira Barreto, Leonidas de Mello Deane, Maria P. Deane, Luis Rey, Dácio do Amaral, Victor Nussenzweig, Ruth Nussenzwig, Luiz Hildebrando Pereira da Silva e Erney Camargo.

      Escrito por Erney F. Plessmann de Camargo (ICB-USP) – Photo collection
      Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina da USP

    • Wladimir Lobato Paraense

      Lobato Paraense - fiocruzNascimento: 16/11/1914 | Falecimento: 11/02/2012

      Wladimir Lobato Paraense integra o grupo de ilustres parasitologistas oriundos do estado do Pará, onde também pontificam Leônidas Deane, Maria Deane e Ralph Lainson (este um paraense honorário). Nasceu em 16/11/1914 em Igarapé-Mirim, iniciou o curso médico em Belém em 1931 e o concluiu em Recife em 1937. Especializou-se em Anatomia Patológica na Faculdade de Medicina da USP. Em 1939 ingressou no Instituto Oswaldo Cruz onde desenvolveu excepcional carreira acadêmica e realizou pesquisas importantes tanto no campo da Malacologia como da Protozoologia. Na primeira área foi responsável por realizar um detalhado estudo sobre a distribuição de moluscos de água doce, especialmente os transmissores da esquistossomose mansônica no hemisfério Ocidental. Identificou e descreveu muitas espécies novas de moluscos. No campo da Protozoologia, ao qual se dedicou no início da carreira, entre 1939 e 1947, realizou importantes estudos dos parasitas da malária. Merecem destaque os estudos realizados com o Plasmodium de aves, especialmente o P. gallinaceum e o P. juxtanucleare. Junto com Hertha Meyer foram pioneiros no cultivo in vitro da forma exoeritrocitária do P. gallinaceum, artigo que teve grande repercussão. Ao longo da sua carreira interagiu com Evandro Chagas, Adolfo Lutz e Jorge Lobo. Em 1969 foi para a Universidade de Brasília, mas regressou ao Instituto Oswaldo Cruz, onde assumiu a Vice-Presidência de pesquisa entre 1976 e 1978. Continuou sua atividade de pesquisa na área da malacologia até seu falecimento em 11 de fevereiro de 2012.

      Escrito por Wanderley de Souza (UFRJ) – Photo collection Fiocruz

    • Zigman Brener

      Lobato Paraense - fiocruzBorn: 07/09/1928 | Death: 23/09/2002

      Professor Zigman Brener, filho único de imigrantes pobres da Europa Oriental, nasceu em São Paulo em 1927 e se tornou um dos mais importantes líderes mundiais no estudo de protozoários parasitas. Seu interesse pela pesquisa científica começou durante o curso de graduação na Faculdade de Medicina, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Após a formatura, ele praticou a medicina por um ano e fechou seu consultório para se dedicar à ciência, trabalhando principalmente com a biologia do Trypanosoma cruzi e a doença de Chagas humana, Leishmania e leishmaniose, Schistosoma e a esquistossomose. No início de sua carreira, ele passou um ano como cientista visitante nos Laboratórios da Hoffman-La Roche, na Suíça, onde desenvolveu modelos para pesquisa em doenças parasitárias. Seus primeiros cargos acadêmicos, em 1956, como professor adjunto na UFMG e pesquisador do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz) lhe permitiram conciliar pesquisa e ensino nessas duas instituições. Em 1968, após a criação do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, ele se tornou o chefe do primeiro Programa de Pós-graduação em Parasitologia no país. Ele publicou mais de 200 trabalhos de alta qualidade e de três livros que são referências internacionais do estudo da doença de Chagas (Trypanosoma cruzi e doença de Chagas, primeira edição em 1979; segunda edição em 1999; e Doença de Chagas tripanossomíase americana: seu impacto sobre a transfusão e Medicina Clínica (1992). Ele atuou ainda como supervisor de 26 de alunos de mestrado e de doutorado, a maioria dos quais tornaram-se especialistas reconhecidos em seus campos de trabalho. Em 1994, ele se tornou professor emérito do Departamento de Parasitologia da UFMG. Ele era casado com Adélia Brener e teve duas filhas, Stela e Marta. Professor Brener faleceu em 23 de setembro de 2002. Juntamente com o seu legado científico, sua cativante personalidade, carisma e paixão pela ciência fizeram de todos nós, membros da SBPz, seus descendentes científicos. Por isso, um prêmio com o seu nome é outorgado aos autores dos melhores posters apresentados nas Reuniões Anuais da nossa Sociedade.

      Escrito por Santuza M. R. Teixeira ( UFMG) e Antoniana Ursine Kretlli ( Fiocruz-CPqRR)