RESUMO:
Foi numa criança de dois anos de idade, do sexo feminino, de nome Berenice, que, em 1909, Carlos Chagas verificou, pela primeira vez em um ser humano, através de sua forma aguda, a Tripanosomíase Americana, comprovando-a pela correlação entre o quadro clínico inédito e a presença do Tripanosoma cruzi no sangue circulante. Em 1916, Carlos Chagas reexaminou a jovem Berenice, então com a idade de nove anos, e ela apresentava saúde normal. A paciente foi reencontrada em 1961, com a idade de 54 anos, quando foi submetida a completo exame clínico e laboratorial. Ficou comprovado que logo a própria primeira paciente não só havia sobrevivido até essa data, como não apresentava os sinais e sintomas considerados próprios da forma crônica da doença de Chagas e ainda apresentava, ao xenodiagnóstico, o mesmo tripanosoma que propiciara a descoberta. Esse tripanosoma recebeu o nome de Cepa Berenice, que, a partir de então, vem sendo estudada sob vários aspectos, sendo que seu genoma foi concluído em 2018, mostrando que a cepa Berenice pertence à linhagem TcII. Seu falecimento em 1981 não decorreu da tripanossomose.
SOBRE O AUTOR:
Nascido, em 1937, em Nepomuceno, sul de Minas, cidade de que é historiador, com
o livro NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2013). Diplomado em medicina, filosofia e pedagogia pela UFMG. Mestre e doutor em Medicina Tropical e também Professor titular de Clínica Médica pela UFMG. Criador do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, que inspirou outros por Minas e pelo país. Professor de Semiologia Médica e de Clínica Médica por 25 anos. Autor de pesquisas de clínica, de medicina experimental e de campo, bem como de pedagogia e de história, no Brasil e no exterior. Recém-diplomado, publicou o reencontro da paciente Berenice da doença de Chagas. Líder da celebrada inovação do ensino médico em 1975, com repercussão dentro e fora do país. Autor dos conceitos inovadores do algoritmo das 4 medicinas, trifurcação corporativa, bifurcação semiológica do beribéri, equipe mínima de 3 médicos. Na doença de Chagas: Valsava, regressão embrionária, acidentes próprios, quilombo e “dormir no cantinho”. Outros: pediatrizaçao curricular, calendário contínuo, medicamento genérico, autoavaliação prospectiva em educação, treinamento em subsetores hospitalares, ensino simulado, módulos de aprendizagem rápida, ensino extramural (especialmente o internato rural), integração discente-atencional, atenção à saúde mental e humanização psiquiátrica, cirurgia ambulatorial, ensino contra-consumista, aprendizagem clandestina e ociosidade da competência. Participou da primeira implantação no Brasil 1) do primeiro marcapasso cardíaco, 2) do cuidado progressivo, com nova estruturação hospitalar e 3) do 1o CTI modelar (OPAS) brasileiro. Influenciou na redação do capítulo sobre o sistema de saúde da Constituinte e na redação da Declaração de Edimburgo, de 1988. Veemente contestador do setor de Saúde Suplementar. Participou da modernização do tratamento da úlcera péptica e da fundação do Instituto Alfa. Autor dos livros O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTOCURRICULAR EM EDUCAÇÃO MÉDICA NA UFMG (1976) e ENSINO
DE MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS (2013), este publicado dentro das comemorações dos 50 anos do curso médico da UNICAMP. 1o especialista brasileiro no estudo comparativo da atenção à saúde no Reino Unido, Canadá e EUA. Encontrou o primeiro caso de glândula sebácea no esôfago. Editor ou prefaciador de várias obras, especialmente a edição facsimilar do livro histórico ERÁRIO MINERAL (1735). Autor do capítulo RIOBALDO EMBOSCA JECA TATU, de NOS SERTÕES DE GUIMARÃES ROSA de Carlos A. Salles (2011) e do livro ora finalizado O ESTUDANTE DE MEDICINA GUIMARÃES ROSA. Co-autor de A DISPESIA NA HISTÓRIA & A HISTÓRIA DA DISPEPSIA (2006). Editor de vários periódicos também inovadores e autor de outros textos científicos, pedagógicos e históricos. Escreveu o livro de memórias O RISO DOURADO DA VILA (2a ed. 2020), por sugestão de Pedro Nava, seu amigo pessoal. Orador desde a infância e conferencista em 3 outros idiomas no Brasil e no exterior.